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Compreendendo paradigmas: entendendo o ‘fazer ciência’

O sistema de valores e a concepção de mundo que estão alicerçados em nossa cultura são fruto dos séculos XVI e XVII, que se tornaram a base do paradigma que dominou o rumo civilizatório dos últimos trezentos anos e, atualmente, está em momentos de crise.


Os séculos XVI e XVII ficaram conhecidos pela Revolução Científica, que teve início com Nicolau Copérnico quando se opôs à concepção geocêntrica de Ptolomeu e da Bíblia. Posteriormente, veio Johannes Kepler, que formulou suas céleres leis empíricas do movimento planetário. Mas foi com Galileu Galilei que a Revolução Científica ganhou espaço, sendo o primeiro a utilizar a experimentação científica com o auxílio da linguagem matemática para formular as leis da natureza e que, por isso, é considerado o pai da ciência moderna. Enquanto Galileu engendrava engenhosos experimentos na Itália, Francis Bacon, na Inglaterra, descrevia o método empírico da ciência.


Mas o século XVII tem seu maior destaque com René Descartes e Isaac Newton. Descartes é considerado o fundador da filosofia moderna e, como brilhante matemático, deu contribuições à construção do método analítico, que consiste em decompor pensamentos e problemas em partes, tornando-se extremamente útil no desenvolvimento de teorias científicas e na concretização de projetos tecnológicos.


Com efeito, a divisão cartesiana provocou uma interminável divisão do ser humano em suas relações na sociedade, influenciando o seu complexo modo de pensar e de agir. Tal falácia estava impregnada de reducionismo, que trouxera efeitos em várias esferas da vida e da ciência, promovendo e proporcionando conexões independentes que, com o passar dos anos e principalmente na esfera ambiental, trouxe inúmeros danos no que concerne à finitude dos recursos naturais do planeta terra.


Assim, a crise ambiental tornou-se um sintoma dos limites da racionalização científica e instrumental, e a crise ecológica gestou a emergência do pensamento da complexidade, acompanhada pela teoria de sistemas, teoria do caos e das estruturas dissipativas. A partir daí, o fracionamento das ciências enfrentou a complexidade do mundo, projetando a veracidade da construção de um pensamento holístico e reintegrador do conhecimento para a gestão de um mundo globalizado. Assim, os paradigmas interdisciplinares e a transdisciplinaridade do conhecimento surgem como antídoto para a divisão do conhecimento gerado pela ciência moderna.


Daí, a noção de paradigma está imbricada nos conceitos que norteiam a ciência numa visão Kuhniana. Mas é este novo olhar que inquieta aos que formulam a ciência hoje. Kuhn (2001) reflete a questão paradigmática centrando-a como necessária, sendo o paradigma, em sua visão, aquilo que está no princípio da construção das teorias, ou seja, é o núcleo teórico que orienta uma comunidade científica. Assim, numa época de grandes mudanças e de uma revolução científica marcada pela cibernética e a robótica, onde uma crise ambiental ameaça a civilização, há a necessidade de um novo olhar para dar à luz outra visão de mundo, uma nova concepção de ciência, um novo paradigma.


Para que haja a possibilidade de uma metamorfose no pensamento e nas ações, torna-se necessária uma construção racional dos conceitos e da recusa ao reducionismo. Diante das divergências epistemológicas, encontram-se a necessidade de idealizar uma melhor forma de desenvolvimento, considerando as particularidades in loco, dificuldades, recursos e impactos, sejam estes de ordem social, econômica ou mesmo ambiental.


Por fim, ousar o novo sempre assusta. Mas o mundo necessita mudar, em função de suas complexas relações e formações, unificando os saberes e as práticas para a construção de um conhecimento científico atento às questões de nossa época, direcionado para um saber holístico e sistêmico sem fissuras e rupturas com um todo social.


Lançamento do livro "O Olhar da Águia, para o Rosado da Caatinga"

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