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Foi num dia, numa aula: festina lente

A aula sempre começava após o intervalo da tarde , e eu sentava logo na primeira fila. Era dedicada, me preocupava com as notas e sempre via em algumas matérias oportunidades especiais, não só para aprender o conteúdo, pois eu já viajava imaginando como seriam alguns lugares. Eram dias que me tornavam distante de algumas realidades. Afinal, ser uma estudante da Escola Pública Estadual Moreira Dias em Mossoró , já trazia uma condição limitada para muitas coisas materiais, todavia os seus sonhos eram intrínsecos e silenciosos.


32 anos se passaram, e eis um fato novo:


E, numa tarde fria de outono em Bratislava, em pleno leste europeu, fui dar um passeio nos jardins reais do Castelo. Já conhecia o lugar, havia tido a oportunidade de adentrar nos salões e perceber a beleza inebriante , encantadora e cheia de mistérios . Afinal, sua localização no alto de uma colina estrategicamente pensada, em torno de suas muralhas. Essa fortificação tem suas lições não só de estrutura arquitetônica, história etnográfica dos mais variados estágios de tempo. Enfim, são as lides da permanência, da existência, da resiliência e do sentido de continuar sendo.

Após caminharmos, paramos num ponto da fortificação que fica nas margens do rio Danúbio. Nesse momento, eu comecei a lembrar atentamente, quase que ouvindo a voz do meu professor de geografia, das descrições, e da entonação empolgante que me fazia viajar , escutando àquela explicação , que o mesmo fazia utilizando uma ilustração dos nossos livros , gratuitos entregues pela Escola e algumas vezes , com apontamentos no quadro escrito com giz branco.


A sumária descrição, feita com afinco e responsabilidade do Professor Edilson, me levou a sonhar e a perceber lugares que eu achei que nunca iria conhecer. Confesso, que as lágrimas caíram porque quanto mais eu admirava o cenário, mais eu viajava no tempo . Mergulhei nas idas e vindas e percebi, quão importante é ser uma professor(a) , quão intenso é seu labor em cada palavra dita.


Pois, as lições do Danúbio foram dadas com ideias, com possibilidades, dentro de uma realidade que me fez entender que era possível aprender e quem sabe um dia, ver vivendo o lugar. Saindo das fotografias dos livros e sentindo o cheiro das águas, ouvindo o som dos pássaros e o ecoar de vozes de várias nacionalidades.


Sabe , professor Edilson: foi o festina lente, "Faça o seu trabalho de maneira rápida, porém não apressada", que o Senhor aprendeu e depois utilizou em suas aulas que fez toda a diferença.


Nunca mais eu vi esse Professor, ele deve ter se aposentado logo após aquelas aulas. Já era um Senhor de idade, que tinha outras atribuições . Mas, chegava ali disposto a nos fazer compreender que: estudar é muito mais que ler, escrever , entender e sonhar . É, ter a certeza que declarar o que se sabe é bem mais forte do que se pode imaginar.


Parabéns, para quem planta a esperança e eterniza conhecimentos!




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