O futuro da Universidade pública brasileira
O cenário da crise que permeia o país transversaliza seus efeitos na estrutura educacional brasileira. Inúmeros são os desajustes, que vão desde a fragilidade para cumprir metas de um Plano Nacional de Educação – PNE, à instabilidade da construção do processo ensino-aprendizagem, em função da mobilização nacional por parte dos professores e professoras que lutam por uma Universidade pública, gratuita e de qualidade, com as condições mínimas para formar cidadãos e cidadãs.
A reestruturação da Universidade pública no Brasil está na ordem do dia de todos os profissionais que estão a serviço da nossa nação. São técnicos administrativos e docentes empreendendo uma luta na contramão dos ajustes fiscais. O mais doloroso no processo é a peculiaridade que temos: não ter uma educação que dá suporte ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia do país para promover o crescimento. Ademais, as prioridades do campo educacional pairam num cenário de incertezas, dúvidas e querelas.
É necessário reconhecer grandes avanços nos últimos 12 anos. Tivemos uma parcela significa de crescimento do número de jovens vulnerabilizados social e economicamente na Universidade brasileira, além do investimento em permanência estudantil, ações de inclusão social e ações afirmativas para as questões étnico-raciais. No entanto, a retração na economia trouxe sintomas de insatisfação no país, mostrando que a financeirização é um dos fortes aspectos. Contudo, elementos do campo da autonomia universitária, da capacitação profissional, do não à terceirização, são pontos relevantes desse processo de luta: a luta do direito que vai além da conquista e, sim, da manutenção desses direitos.
De acordo com o professor da UFRJ, Ricardo Bielschowsky (em seminário na ANDIFES - Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior, em agosto de 2015), contextualizou o momento econômico analisando: “Tivemos avanços espetaculares, como a queda da pobreza, investimentos em programas sociais, avanço na educação, aumento dos salários, redução na concentração de renda, mas temos problemas para enfrentar”, disse. Para o economista, o país precisa melhorar a infraestrutura social, iniciar uma nova etapa de industrialização, investimento em inovação e melhoria nos indicadores fiscais.
Outrossim, o não à mercantilização da Universidade e a prioridade para a manutenção do público e para o público tem sido um clamor por parte dos que fazem o ensino superior no Brasil. Há uma chamada para maiores investimentos nessa área em detrimento ao olhar para programas como o FIES e o PROUNI, já que a educação não pode ser tratada como mercadoria e, sim, como um investimento de transformação, de mudança, de conquista para um povo, a partir do equilíbrio entre os eixos de atuação entre ensino, pesquisa e extensão frente ao compromisso e à função social da Universidade. Daí a flexibilização curricular, os cursos a distância e a evasão e retenção serem pautas fundamentais no campo de discussões, além da própria matriz de investimentos da ANDIFES, que está sendo discutida para delinear a educação superior no Brasil diante da precária realidade que vivemos. Nesse sentido, o destino dessas Universidades depende da conjuntura, da vontade e da luta.
"a educação não pode ser tratada como mercadoria, mas como investimento de transformação"